
No meu dicionário de metáforas Saudade é como um hóspede importuno: chega pra passar uns dias e não tem pressa de ir embora. Bate forte à nossa porta. Por vezes a porta quebra. Trocamos a porta, mas não o hóspede.
Saudade é quando você está no paraíso, mas desejaria estar na terra com uma única pessoa. É deixar um pouco a cidade onde você mora e fazer uma viagem à cidade natal. Saudade é ser egoísta consigo mesmo; se preocupar mais com o alheio do que com o próprio. Saudade é quando você deixa de ser o poeta e se torna o poema; um poema incompleto...
É quando você desaprende a conjugar no presente e somente conjuga no pretérito imperfeito. Saudade é como assistir sozinho a uma sessão de cinema; assistir ao próprio filme.
Saudade é quando você sente uma adaga no peito. É quando o relógio aproveita pra cravar a adaga mais fundo. Saudade é quando a areia do tempo corre devagar, pelo simples fato de você não estar desperdiçando-a com outra pessoa; o desperdício mais bem aproveitado. Saudade é quando você sente o cheiro do outro, mesmo ele estando a quilômetros de distância. A saudade vai contra as leis da química; o calor do outro consegue viajar pelo vácuo. É quando você vê um rosto, ainda que esteja de olhos fechados. Saudade é quando você admira uma estrela na esperança de que outra pessoa a esteja admirando também.
Saudade é quando apenas uma ligação faz seu coração bater mais rápido e devagar ao mesmo tempo. É como se a voz assustasse o coitado e o deixasse inerte; e depois de cair a ficha ele pulasse de alegria como um cachorro quando vê seu dono. O meu coração é um vira latas.
A Saudade vira tudo pelo avesso. Quem nunca se sentiu assim com o coração na mão e a mão no peito? Quem nunca se deitou como um feto e apertou forte contra o corpo os joelhos?
A saudade é traiçoeira. O que os olhos não veem, o coração sente.
Eu sinto.
A saudade é minha melhor amiga, nunca me deixa só. Ela sempre vem ao meu encontro quando a chamo (e quando não chamo também...). Ela dorme e acorda comigo; ela me faz companhia quando escovo os dentes; ela me chama pra brincar quando preciso fazer o dever de casa. A Saudade não me deixa desistir, ela me conforta. Ela me mostra o quanto isso é importante pra mim.
O seu hóspede importuno não aceita a possibilidade de uma despedida. Ainda assim, continuo cuidando dele.
Eu o alimento.
Eu não quero que ele vá embora.
Porque enquanto ele existir eu tenho a certeza de que você ainda existe dentro de mim.
PS.: Sinto sua falta.
Vanêssa Aulette