sexta-feira, 28 de maio de 2010

O eco

Corria no escuro desesperada, a esmo, sem esperança alguma até que, de angústia, resolvi gritar e algo novo aconteceu: um outro grito me respondeu. Perguntei onde ele estava. Ele, tão desesperado quanto eu, também perguntara o mesmo. Minha resposta fe-lo responder também mas parecia ainda muito vago, estávamos no escuro.
Perguntei-lhe o que o fez parar ali. Ele respondeu-me com a mesma pergunta. Por um momento pensei em lembra-lhe que eu tinha perguntado primeiro mas deixei passar, não queria me estranhar com a única voz q me fazia contato depois de tanto tempo. Expliquei-lhe cada detalhe sórdido, que ao ser lembrado remexia a ferida em meu peito. Meu companheiro de conversa o mesmo respondia, quase que imediatamente. Fiquei feliz em saber que a voz poderia me compreender desse modo, não era a única que sofria assim.
Já não corria mais, sentei-me onde pude me achegar tentando me manter distraída com a situação. A cada minuto de conversa me sentia cada vez mais intimamente ligada à voz, tínhamos muito em comum, pra não dizer tudo. No entanto, uma coisa me deixava irritada: a voz em tudo me remendava, como que zombando de mim, mas preferi pensar que era apenas coincidência. A essa altura não havíamos nos apresentado formalmente. Perguntei-lhe o seu nome e, por coincidencia, ela também perguntou o mesmo.
Ao tempo que eu respondia, ela também se apresentava com o mesmo nome, o mesmo sobrenome. Como que sendo atingida bruscamente no rosto, caí em mim. Eu conversava, na verdade, com o eco da minha voz. A descoberta foi o bastante para rasgar de vez a ferida em meu peito. Percebi que eu estava presa, solitária e angustiada em um buraco cuja existência eu sabia, porém não fazia ideia de suas dimensões...



Vanêssa Aulette

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