terça-feira, 19 de abril de 2011

Apaixonados incorrigíveis

Cartas, bilhetes, mensagens, tudo parece tão bobo quando se olha racionalmente. O amor te deixa idiota. Você olha e pensa "fui eu que escreví isso tudo? Não acredito...". Não, não foi você, foi quem você se tornou com a outra pessoa.

Um romântico incorrigível.

Humilhações, elogios, juras de amor eterno. É tudo o que sai da caneta quando se está recostado na cama sob a luz do luar degustando um chocolate. É doce.

Todo você é doce quando ama.

Os apelidos carinhosos, as piadas internas, os planos mais mirabolantes e até mesmo os mais simples como viajarem juntos de ônibus à noite pela cidade pelo simples prazer de sentir o calor e a calma que o outro lhe traz.

É nauseante ver as juras dos outros. É vendo as sensações alheias que você reconhece as próprias sensações. Em se tratando de você, nenhuma demonstração de afeto é boba o bastante, pelo simples fato de o amor ser seu.

Somos romanticamente hipócritas.

Somos como passarinhos brincando nas poças d´água. Quando roubamos um beijo somos como as pombas que bicam sorrateiras os farelos. Quando vemos o outro somos como cães que abanam o rabo ao verem seus donos. Quando escrevemos uma carta somos simplesmente apaixonados incorrigíveis.

Guardo pedaços teus não por medo de que o tempo e a distância possam apagar tuas lembranças, mas por querer sentir tudo de novo. Reconstituir a cena do crime. Como se os mesmos gestos, o abrir da carta, a mesma calçada, as horas do dia e as palavras na retina pudessem viver tudo novamente. Relembrar não é a palavra certa, porque é como se já estivesse esquecido.

Eu não quero te relembrar, eu quero te reviver.

Porque não precisei perder para saber o quanto era valioso, mas precisei perder para saber o quanto era necessário.


PS.: Eu ainda sou tua vermelhinha.



Vanêssa Aulette

sábado, 9 de abril de 2011

Folha em branco

Mil coisas na cabeça, nenhuma sai da pena. Mil rostos à frente que só ocupam espaço na memória, não coração. As migalhas nunca foram tão necessárias quanto agora.
Nossas conversas, nossas brincadeiras, nossas piadas internas. Quando acontecem, acho que é Deus compadecido com os meus cacos. E eu, como uma criança, lambo o potinho do iogurte, remexo com o dedo, tento aproveitar cada gota doce do que foi você. Do que fomos nós. Um dia acreditei que certas coisas eram para sempre, mas o tempo me ensinou que até mesmo o "para sempre" é temporário. Espero que esse vazio também seja.
Eu sei que tem um mundo maravilhoso lá fora, mas não consigo senti-lo agora. Eu sei que isso vai passar, mas eu apenas quero chorar agora.
Suas mãos já não seguram firme meus dedos e o teu sorriso já não é o mesmo. É como entrar pela porta dos fundos em uma casa que um dia foi sua. Hoje eu sou como um sapato roto, largado, velho.

As asas da esperança me trazem à memória seus planos. Recomeçar em uma folha em branco, lembra-se? Reinventamos maneiras e frases para renovar as esperanças e prosseguir com o que foi interrompido. Recomeçar é sempre bom e faz bem. O prazer de poder recomeçar tem gosto de fruta tirada do pé, fresquinha. É reconfortante. Mas não é tão simples assim. Você não pode tocar em cordas quebradas. Dizem que o tempo cura, mas não. Às vezes o tempo não cura. Nem um pouco. Apenas permanece parado enquanto nos apaixonamos ou deixamos de amar de novo. Não faça isso...

Eu quero muito abrir seus olhos porque eu preciso que você olhe dentro dos meus. Eles nunca foram tão suplicantes quanto agora. Quer que eu me ajoelhe? Me ajoelharei.
Ninguém disse que seria tão difícil. Eu não estava pronta. Não estou. Mas vamos voltar ao começo, vamos voltar a correr atrás da cauda como cães filhotes. Vamos murmurar palavras cálidas, ironias românticas. Vamos preparar nossa folha em branco, moldá-la juntos. Cortar as arestas, comprar as canetas. Eu só preciso ouvir um "te esperarei". Não peço muito, só peço seu coração em troca do meu.
Permita-se amar novamente.

Porque eu nunca deixei de fazê-lo.


Vanêssa Aulette