Quando o outro se aproxima é que você passa a enxergar. Cones e bastonetes? Você nunca precisou deles, eles não funcionam. Você sempre precisou de um amor, esse funciona. Sempre.
Um supermercado vira um parque de diversões. Um colo vira uma cama. Os olhos, uma câmera.
A saliva, o copo d'água.
Parece que as cores ficam mais claras. Os sons ficam mais harmoniosos. Os sonhos brincam de pega-pega na sua mão. Os anjos da guarda murmuram um louvor a Deus enquanto observam, de perto, aquelas duas almas desejosas de se fundirem de um vez por todas.
É na presença que você sente o bater do coração. O coração do outro. Você sente um calor fluir, mas nunca atinge o equilíbrio térmico. O gás carbônico nunca foi tão necessário quanto nesse momento. Você descobre que nunca precisou aprender a respirar, ele respira por você.
Ele é o próprio ar.
Na ausência você é pego se confessando pelos cantos. Pede perdão até pelo que nem cometeu, para que continue merecendo. Você vê o arco-íris cinza, a imagem turva no espelho. Porque ele é o espelho perfeito. Você franze o cenho pra uma espinha aqui, faz biquinho pra uma gordurinha ali, e ele discorda. O espelho fala contigo e te convence de que você está errada. Te chama de linda até você se convencer disso! Ele estende os braços e te aceita.
Quando ele está lá o mundo muda a todo instante. Você se vê em cima de uma árvore enquanto ele conta os seus sinaizinhos. O saguão do prédio vira um salão de beleza enquanto ele
Você sorri.
E quando ele te beija.. o mundo para. Você se esquece do próprio nome.
Quando ele não está lá, você faz de tudo pra sabotar a ausência. Você faz salgadinhos de queijo pra senti-lo mais perto. Ele adora seus salgadinhos...
Você gostaria que ele estivesse aqui. Mas nenhuma tristeza virá, nada virá pra enfraquecer o sentimento. Ele sempre estará aqui.
Ele e o sentimento.
Vou ali preparar uns salgadinhos de queijo.
E ele, com certeza, vai me jogar farinha e bagunçar meu cabelo.