domingo, 11 de julho de 2010

Metamorfose

Sentada na varanda folheando meus álbuns, recordava-me da época em que tudo era mais fácil. A chuva começando a cair me trazia o cheiro de terra molhada, terra essa que costumava ser meu passatempo preferido... costumava...
As lembranças ainda voltando me faziam rir. Sim, rir como uma criança, como na época em que assistia programas infantis e desenhos animados. Me saboreava enquanto, aos poucos, as músicas soavam aos meus ouvidos mais uma vez... sim, eu podia ouvi-las.
Lembrava-me também da inocência, do medo de andar sozinha, do quanto eu me sentia pequena e frágil entre a multidão, das preocupações que, hoje, não se comparam às atuais. Lembrava-me da insegurança em conversar com meus pais... embora isso não tenha mudado muito...
Traumas... alguns são bem vagos. Nem sei, na verdade, até que ponto deixaram de ser reais para ser fruto da minha imaginação. Outros, estão bem claros em minha mente... ainda posso ouvir os gritos! Mas isso é passado... espero
Ainda olhando as fotos, percebo nitidamente a mudança física, mudança rápida, essa, que me assustou. Pêlos? Para mim isso era coisa pra macacos... seios? Só na mamãe, para amamentar... sangue? acho que foi o que mais me perturbou... traz desconforto, insegurança, mal humor... e me dá vontade de chorar... (como se eu precisasse de mais isso...)
Ainda em meus devaneios, noto uma garotinha brincando de boneca do outro lado da rua. Sim, tive muitas... aliás, ainda tenho, a diferença é que hoje elas enfeitam minhas prateleiras e retêm poeira. Por outro lado, os meus antigos ursos de pelúcia, que ficavam de lado, hoje em dia me fazem companhia nas noites frias... não, não é infantilidade, não, é um sentimento novo que a maturidade me trouxe... a carência. Já não sinto os garotos como irmãos, companheiros de pega-pega... agora eu descobri o amor, que me traz uma dor bem mais penetrante do que uma simples queda do muro de uma criança serelepe.
A chuva ainda caía e somada ao céu cinzento uma ídéia me trazia: eu não sou como costumava ser, minha vida não é como costumava ser e nada mais é como costumava ser...


Vanêssa Aulette