sexta-feira, 6 de maio de 2011

Carpe Diem

São 21h15, faltou energia. Me arrasto molemente para o sofá com uma xícara de café nas mãos. Livros, cálculos, relatórios, trabalhos, pesquisas, afazeres, (quase) tudo me espera. A luz da vela nessas horas nunca parece convincente o bastante. Não que eu me importe.

Tomo um gole de café.

Momentos como esse são como desculpas para deixar o hoje pra amanhã. É como espanar a poeira pra debaixo do tapete. É como parar o mundo e descer, nem que seja por alguns minutos. Uma oportunidade para concentrar todas as forças relembrando o passado ou projetando o futuro; ou simplesmente pensando em nada. O presente pode esperar...
Por um curto espaço de tempo você tem a chance de fugir da correria, das cobranças, dos deveres, da alienação.

Tomo um gole de café.

"Nunca deixe pra amanhã o que você pode fazer hoje", diria Benjamim Franklin. Eu não sei por que adiamos as coisas. Talvez por medo. Medo de fracassar, medo da dor, medo da rejeição. Às vezes é medo de tomar uma decisão. E se for a decisão errada? E se cometermos um erro que não se pode concertar? É como manter um amor platônico por medo de se declarar. É como adiar um pedido de namoro com medo do sentimento. É como contar até cem para conversar com os pais, por medo da retaliação. É como deixar de dizer "eu te amo" com medo de se sentir bobo. E se por causa da covardia você deixar de saber que também foi amado platonicamente?; e se perder o outro pra alguém com iniciativa?; e se perder a oportunidade de você e seus pais serem melhores amigos?; e se o "eu te amo" fosse o bastante para o outro querer a eternidade ao seu lado?

Não vale à pena deixar pra amanhã.

Temos que errar para aprender. Temos que aprender nossas lições. Temos que varrer a possibilidade de hoje pra debaixo do tapete de amanhã até não poder mais. Ter certeza é melhor do que imaginar. Acordar é melhor do que dormir. A dor do arrependimento é menor do que a dor da possibilidade.

Benjamin fez descobertas sobre a eletricidade, devia saber o que estava dizendo.
Como seria fácil se pudéssemos apagar as luzes sempre que precisássemos de uma saída. Mas isso seria viver de fiado. Deixemos as prestações e dívidas. Vamos viver à vista. Porque viver é pra hoje.
Ainda está escuro aqui, mas vamos à luta com as velas.

Porque mesmo o maior fracasso, mesmo o maior e incontornável erro é melhor do que nunca tentar.

Terminei o café.


Vanêssa Aulette