terça-feira, 23 de novembro de 2010

A carta



Deitada na varanda sob a luz da opulenta lua cheia, me encontro com um bobo sorriso no rosto. Esse é o efeito que você me causa toda vez que releio sua carta. Ela me tira do mundo real e me transporta para o seu mundo, suas palavras, seu sentimento. Passo de leve os dedos sobre sua irregular caligrafia e rio sozinha ao ver que é SUA. Imagino tua mão segurando aquele inanimado objeto, imagino tua mão segurando a minha mão. Te imagino parando em momentos de hesitação.
Te sinto falar tudo aquilo ao meu ouvido, te sinto comigo. Nas suas despedidas imagino suas mãos cuidadosas envolvendo minha cintura mimosa em um terno abraço. Esse é o efeito das suas doces palavras. Sempre que a angustiante incerteza bate, me embriago com esse cálice de recordações e lembro-me que não luto em vão, mas por um bem maior do que qualquer ouro do mundo... VOCÊ.
Paro um segundo em meus devaneios e reparo na nossa estrela se destacando no luar. Sim, um dia teremos novamente um ao outro, "é só não deixar a luz parar de brilhar".



Vanêssa Aulette

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Toque de recolher

Sentada na praça vejo a chuva cair por sobre minha pele, mas já não a sinto. Ela sem mistura com a água que brota dos meus olhos incessantemente. Já não sei a diferença entre lágrimas e chuva.
Ouço ao longe uma sinfonia melancólica a tocar. Talvez seja um disciplinado aprendiz de piano angustiado pela palmatória que levara mais cedo... ou talvez essa melodia seja fruto da minha mente e apenas reflita o estado sorumbático no qual me encontro. Já não sei distinguir fantasia de realidade. Já não sei em que ponto deixo de ser eu para ser uma máquina programada, aparentemente sem coração. Mas se até máquinas precisam de um motivo para existir, porque comigo seria diferente?
Não tenho eu mais liberdade do que um prisioneiro perpétuo. Procuro à minha volta algo em que eu possa me agarrar, algo que possa conter a chuva que brota dos meus olhos, mas não tenho tempo para pensar. Soa o toque de recolher, tenho que voltar logo para a minha prisão de sorrisos forçados e de algemas invisíveis...


Vanêssa Aulette