quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Serenata de Amor Platônico

Fugindo um pouco da rotina, aqui vai uma breve crônica...

Dia desses larguei do colégio e passei na banca de revistas pra comprar um bombom. Comprei um Serenata e fui degustando-o enquanto me dirigia pra a parada de ônibus. Como de costume, as frases românticas no papelzinho da embalagem. Dentre elas, esta: "Uma pessoa que sofre de amor platônico pensa em sua paixão 24 horas por dia. Sabe por quê? Porque o dia só tem 24 horas".
Refletí um pouco e reparei que quase todas as frases de amor do Serenata fazem menção ao amor platônico. Relendo essa frase acima pensei: "por que pra pensar na pessoa amada durante o dia todo o amor tem que ser necessariamente incorrespondido?"
Quem tem o outro não tem motivos suficientes pra fazer o mesmo? Aliás, qual a graça em amar platonicamente? Quem não é correspondido não tem momentos felizes com a pessoa amada, só transmite sofrimento. Quem tem o outro se sente vivo, sente o pulsar do sangue, vive momentos felizes e, portanto, é quem tem motivos de sobra pra pensar no amado 24 horas por dia.
Não digamos "uma pessoa que sofre de amor platônico", digamos apenas "uma pessoa que sofre de amor".

Essa e outras frases do bombom não são dignas da exclusividade platônica. A Garoto parece não concordar com isso... O Serenata de Amor deveria se chamar Serenata de Amor Platônico. E quer saber? Na próxima vez eu compro um Sonho de Valsa!

Falei!


Vanêssa Aulette

sábado, 19 de fevereiro de 2011

120 BPM

De repente o telefone toca. Olho o DDD e meu coração começa a bater mais forte. "Não acredito...", murmuro pra mim mesma. Atendo o telefone. Digo "alô" e em resposta ouço barulhos estranhos.
O telefone desliga.
E liga outra vez.
E desliga outra vez.
E liga outra vez e me responde, enfim, um "alô" entre os chiados do telefonema. Gelei, era sua voz. E digo "alô" novamente e você responde o mesmo. A ligação estava realmente ruim. Ficamos nesse jogo por quase uma eternidade. Quis saber de você, como você estava. Quis poupar os créditos do celular que nem era seu. Mas a ligação não ajudou muito. Colei o aparelho no ouvido, certa de que cada vocábulo seu era unicamente precioso. Ouvir sua "voz de ressaca" durante a ligação cortada fez parecer que eu não a ouvia a séculos. O telefone continuava a chiar. Por pouco não amaldiçoei o celular, mas a presença da sua voz entrecortada absolveu-o. Você foi, inconscientemente, mais uma vez o herói. Da minha alma desfalecente e do telefone.

Cinco minutos apenas, cinco minutos. Você tinha que desligar. Você desligou. E eu fiquei aqui do outro lado da linha congelada. As mãos trêmulas. O coração descompassado. Contei a pulsação, 120 batimentos por minuto. Segurei-o no peito. Achei que ele iria saltar pela boca. Mas não saltou, ficou cá dentro como uma bomba. Como uma criança que brinca no pula pula. Você despertou essa criança.
"Não espere nada da vida os das pessoas, assim evitará futuras decepções e se surpreenderá com as mínimas coisas". Você me surpreendeu. Farei valer tudo aquilo que eu te ensinei. Permitirei-me ser surpreendida cada vez mais. Você me faz bem.Você me faz correr como o sangue nas veias. Nas minhas veias.
De uma coisa eu tenho certeza: se você não me matar de amores, me matará de taquicardia!


Vanêssa Aulette

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sem devolução

O fim de um relacionamento é como uma tempestade chegando. Você ouve de longe os pingos da chuva, cada vez mais sonoros. Você corre para fechar a janela e se sentir seguro. Mas em um relacionamento as janelas não se fecham. A chuva inunda e lixivia o pouco de sanidade que resta.

Você revira os móveis, procura em cada canto aquilo que sumiu. Tenta dar forma às ideias, formular hipóteses. É como perder a chave do carro. Você sabe que perdeu mas não sabe onde perdeu. Porque em algum momento as coisas não saíram como deveriam e o amor não vingou, como um bolo sem fermento.
Até que a ficha caia você faz o outro de refém. Você esconde as chaves de casa, prega tábuas nas janelas. Você não o deixa sair. As palavras entram por um ouvido e saem pelo outro, você não aceita.
É como um assalto, você nunca espera que vá sofrer um. Mas de repente você se vê sem carro, sem dinheiro, sem a chave, sem o outro, sem chão. O réu pode não ser o culpado, mas é amado.

De repente você vira um mendigo. Recolhe as migalhas de pão que caem da mesa. Revira os trapos e aceita a sentença. Barganha um pouco do carinho que já não é seu. Você se deixa iludir pelos mínimos e insignificantes gestos. Você não é amado mas aceita o favor.

O amor não são migalhas, são os pães e peixes multiplicados.

Até que se perceba que papai Noel não existe, você continua esperando-o descer da chaminé com presentes e doces. O amor verdadeiro é um presente embrulhado e sem devolução.
O meu está cuidadosamente embalado pra você.


Vanêssa Aulette

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Clichê

A vida cheia de interrogações, sinais de pontuação que falam por si só. Uma basta para que outras nasçam involuntariamente. Uma basta para lhe tirar o sono. Apenas uma para você rabiscar mentalmente sua folha imaginária. Porque interrogações podem mais do que uma caneca de café.

Vez ou outra me pego observando nossa estrela (ou ela me observando). Porque não só ela, mas tudo aquilo que um dia foi nosso me persegue. E nessas horas eu me questiono se também te perseguem, ou se pelo menos você se deixa ser perseguido e então se lembra de mim. Se nossa estrela alcança o propósito para a qual foi (re)nomeada. Porque tudo aquilo que não é revisitado morre. E eu não quero que isso morra agora.

E o que é a vida se não exclamações? Algumas são boas, outras nem tanto, mas sempre são surpresas. Ao contrário da interrogação que nasce curva, aos poucos, a exclamação é direta, rápida. É à favor das leis da física, é uma força externa que luta contra a inércia. Torna dinâmico aquilo que está em repouso e deixa sem ação o que um dia esteve em constante movimento. Porque exclamações são mais sorrateiras do que leões.

E então me lembro das nossas muitas exclamações. Tento nao pensar na última, que me deixou atônita. Lembro-me da primeira vez em que você se declarou na sala escura de cinema, do calafrio que percorreu meu corpo ao roçar do seu braço, da urgência com a qual me deu seu último beijo. Mas minha exclamação de hoje é uma constante. É um eterno grito silencioso de um "te amo!" todos os dias em minha mente. Porque essa exclamação é simples, sincera, deserperada, urgente! Porque mantenho acesa a esperança de que você possa senti-la simplesmente por eu pensá-la. Porque a distância separa dois corpos, mas não dois corações. E o meu ainda é seu.

A vida também é um constante ponto final, sinal de pontuação carregado de mudanças. Basta um para que vários caiam dos seus olhos. Começar é divino, terminar é fatal. Porque nem mesmo a solitária lua é mais triste do que um ponto final.

E então penso em como tudo acabou. E tudo mudou muito desde que você se foi. Não gasto mais a tinta da caneta rabiscando seu nome e infinitos corações do rodapé das folhas de caderno. Não confiro mais meu reflexo no espelho infinitas vezes. Não te dou mais satisfações da minha rotina. Não fico na ansiedade de te ver descer do ônibus todas as manhãs. Não me constranjo mais como em todas as vezes em que você me olhava profundo nos olhos. Não me esforço mais pra ficar na ponta dos pés e alcançar teus lábios. Não perco minhas poucas horas de sono com nossas ligações de boa noite, principalmente com as em que eu ouvia sua voz cansada. Ah, se toda perda de tempo fosse essa, desejaria perdê-lo eternamente. Porque com você meu esforço foi o mais bem recompensado.
Então sucumbiu o ponto final. Ninguém verteu mais lágrimas do que eu.

Tudo tem um começo, meio e fim. Mas não quero que caiamos em outro clichê que não seja "felizes para sempre".

Porque para aqueles que ainda têm muito o que compartilhar,
O ponto final não é o fim de um sonho,
É uma chance de recomeçar.

Como você e eu.


Vanêssa Aulette