terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nó Na Garganta

Os ponteiros marcam 11h20, e eu sei que ele estará lá a qualquer momento. Sinto meu coração pulsar enquanto me dirijo ao seu caminho rotineiro, sua rota conhecida, em uma tentativa de cruzar nossas direções.

O tempo passa... são 11h30 e eu me refugio na livraria ao lado, pra disfarçar meu intento. Meus olhos correm pelos livros, em uma mistura de disfarce e interesse... "Oh, um livro na promoção..." e lá vou eu ao caixa pagar um clássico de Aluísio de Azevedo. Olho pra o relógio, e já são 12h40... E ele não me apareceu... "Será que me distraí demais com os livros? Será que ele seguiu outra rota?"

Prossigo, ainda ansiosa, à loja de música, onde nos esbarramos da última vez. Será que eu teria a mesma sorte? Mas não... "Um raio não bate duas vezes no mesmo lugar", e esse não bateu também...

Começo a me turbar, procurando, em cada rosto que me passa, o único rosto que me tiraria de toda aquela angústia. Mas ele não vem. Cada rosto que passa só serve pra fazer volume na memória, não no coração. Esqueço-me do acaso que me fez parar ali e apresso o passo, andando a esmo, como que a intensidade do querer fosse direta e suficientemente proporcional à concretização do anseio de encontrá-lo...

Dirijo-me à parada de ônibus, um lugar cuja importância só nós sabemos. Reparo, ao longe, em um rosto moreno cansado, equilibrado pelo queixo com uma das mãos. Meu coração bate a galope ao pensar na possibilidade... Mas não, não era o meu rosto moreno que eu vi, era qualquer outro rosto, um rosto que deveria ser amado por um alguém... Mas não por mim. Era uma miragem.

"Quem sabe ele não estivesse com fome?" E lá vou eu, em meio às mesas, à procura dele. Sinto cheiro de pastel, mas cadê o cheiro dele? Olho para o relógio (mais uma vez), são 13h30.
E cai a ficha. Ele não está mais lá.

E, de repente, me falta o ar. O nó na garganta não me deixa respirar. Com facilidade, o nó começa a afrouxar, e as lágrimas brigam pra sair. E saem, e ardem sem piedade nos meus olhos cansados da solidão.
Minhas pernas me impulsionam a continuar andando, andam por vontade própria. Porque essa eu já não tenho. Compro uma barra de chocolate pra afogar as mágoas, antes que eu me afogue em lágrimas.

E volto pra casa com um livro na mão, uma ferida no pé, uma aperto no coração e uma saudade corrosiva. Uma saudade que me agarra a cada despedida. Uma saudade que revisita suas mãos macias brincando com as minhas, o roçar da minha bochecha na sua barba mal feita, sua voz suave, os olhos distantes de quem não presta atenção em uma palavra do que eu digo, suas falsas despedidas que só servem de pretexto pra me envolver em seus braços.
Mas ele não está aqui, agora.
Só me resta me agarrar aos meus sonhos e às minhas lembranças e tentar sobreviver a mais um dia.
Ou a vários.

Ou à eternidade que é não ter as mãos naquele rosto moreno...



Vanêssa Aulette.