quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Aquarela

Pensei um pouco e percebí que sou um pouco de tudo.

Eu sou um pouco de certeza, um pouco de dúvida. Sou um pouco de choro, um pouco de riso. Sou um pouco de lascívia, um pouco de castidade. Um pouco de frieza, um pouco de saudade. Sou um pouco de mãe, um pouco de filha. Um pouco de professora, um pouco de aprendiz. Sou um pouco da compreensividade de um idoso, um pouco de teimosia de uma criança. Sou um pouco de humildade, um pouco de ourgulho e preconceito. Sou um pouco de obediência, um pouco da rebeldia adolescente.

Eu sou um pouco da Capitú de Matacavalos, um pouco da Capitú da Praia da Glória. Sou um pouco da Amélia, um pouco da Aurélia. Sou um pouco de Gregório, um pouco de Camões. Sou um pouco do bêbê no berço, sou um pouco da mão que balança o berço.Sou um pouco do crepúsculo da aurora, um pouco do crepúsculo do entardecer. Sou um pouco da verdade nua, sou um pouco da mentira agradável. Sou um pouco de realização, um pouco de sofrimento. Sou um pouco daquilo que pensam que sou, sou um pouco do que não sabem que sou. Sou um pouco da doçura de um pirulito, um pouco da acidez de um limão.

Sou um pouco de fé, um pouco de ceticismo. Sou um pouco de desleixo, um pouco de vaidade. Sou um pouco da branca de neve, um pouco da madrasta. Sou um pouco de romantismo, um pouco de realismo. Sou um pouco do porto seguro, um pouco do terremoto instável. Sou um pouco de inocência, um pouco de malícia. Sou um pouco de maturidade, um pouco de insensatez. Sou um pouco do preto, sou um pouco do branco. Sou um pouco das águas turbulentas, um pouco da ponte sobre as águas.

Sou um pouco do que fui, um pouco do que ainda vou ser.

Sou um pouco de muita coisa. Sou a aquarela toda misturada e sou o vaso de barro pintado com a mistura.

Um vaso rachado, inacabado e muitas vezes remendado, coberto com um pouco de cada cor.

Coberto com um pouco de tudo o que sou.



Vanêssa Aulette

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