domingo, 24 de julho de 2011

Beijo de verdade

Sempre me perguntei como seria meu primeiro beijo de verdade. De verdade, se me entendes. Pode esquecer os selinhos na mamãe, na titia, no irmão. Esqueça os selinhos. Eu falo do beijo de cinema. Do cinema que plantou botões de rosa e pintou arco-íris na minha massa cinzenta.

Imaginava meu primeiro beijo no baile de formatura, daquelas formaturas à fantasia, de filme americano. Eu seria uma princesa, e talvez fosse coroada a rainha do baile depois de tudo. Às vezes, minha imaginação não ia muito longe. Às vezes, meu pé só levantava enquanto meu amado enlaçava minha cintura. Estaria tocando uma música romântica ao fundo. Uma música para eu chamar de "nossa".

Não conseguia decidir ao certo o que faria com minhas mãos. Talvez segurassem outras mãos. Ou talvez se perdessem n'outros cabelos. Mas o melhor de todo esse devaneio, aquilo sobre o qual eu não tinha dúvidas de como gostaria que fosse, seriam duas coisas.

A primeira: Ele não precisaria ser muito alto, mas o bastante para me levar à ponta dos pés. Talvez seja o desejo íntimo de todos, o de superar obstáculos por aquilo que ansiamos com todas as nossas forças, mesmo que fosse alguns centímetros do chão.

A segunda: Seria com amor (correspondido). Simplesmente. Nunca fui do tipo maria-vai-com-as-outras. Nunca me deixei levar por aquelas que me zombavam por ser o que chamam de "BV". Pra falar a verdade, eu sentia um orgulho íntimo nisso, uma afeição com o intocável. Um estranho nunca teria meu beijo, não com minha vontade. Seria com alguém que significasse tudo. Seria quando eu sentisse aquela sensação de que não haveria nada igual.

Sempre me perguntei como acontecia um beijo. Será que vem do instinto? Será que já nascemos com o conhecimento dessa arte? Por via das dúvidas, não quis correr o risco de não estar pronta. Odeio quando não tenho a palavra certa, a atitude prudente, o conselho tão necessário. Odeio simplesmente não saber como agir. Com o primeiro beijo não seria diferente. Quem nunca teve um caso de amor com a própria mão, que atire a primeira pedra.

O que mais me perturbava disso tudo era o pós-beijo. O que se fala depois do primeiro beijo? Como eu disse, odeio não estar pronta. E isso eu não podia controlar, sequer conseguia pensar em um diálogo coerente com o espelho. Nos filmes tudo é mais fácil. Sempre.

Meu primeiro beijo aconteceu, mas não foi como eu imaginei.
Não teve baile. Minha perna não levantou. Não tinha música romântica ao fundo. O garoto era mais baixo do que eu. Pouco depois descobri que ele não me amava realmente. Que ironia, não? Eu não sabia como me sentiria durante meu primeiro beijo de verdade, não se sabe tanta coisa aos 14 anos de idade. Só tinha a certeza de que não deveria me sentir daquele jeito. Eu estava tão preocupada com a técnica , com o "fazer certo", com o que o outro iria achar, que acabei esquecendo de sentir aquilo. A famosa "magia do primeiro beijo". Isso eu só fui sentir pouco mais de um ano depois.

O medo nos impede de amarmos plenamente.

Se seu primeiro beijo ocorreu às mil e uma maravilhas, parabéns, você é uma pessoa de sorte.
Porque nem sempre seu primeiro beijo será seu primeiro beijo DE VERDADE.

Não crie expectativas. Não planeje. Quando você planeja, nem sempre as coisas saem como você desejaria que fossem, nem da forma como realmente deveriam ser. É um fiasco. Deixe acontecer.

Quando você der seu primeiro beijo de verdade você vai entender. Porque quando os lábios se tocarem você vai sentir no corpo todo. Um beijo tão quente e profundo que você não vai querer parar pra respirar. Você desejará que, pelo resto da vida, seus beijos sejam só dele(a), de mais ninguém. As borboletas do seu estômago visitarão as borboletas do estômago do outro. Ambos os corpos estarão tão inundados em uma neblina, que você estará em um baile, se quiser, ou numa praia deserta, sob a luz da lua, se quiser. Isso não vai importar. Porque ambos estarão tão desligados do mundo que não lembrarão nem o próprio nome. Você sairá de órbita, será só você, ele(a) e aquele momento. É quando você está tão inebriado com a respiração do outro que tampouco importa a música romântica estar tocando ou não. Você nem vai lembrar das próprias pernas. Você vai perder o chão. Você não vai precisar superar os obstáculos, o outro superará por você. Quando os lábios se soltarem, enfim, as palavras vão sair naturalmente. Será diferente de tudo o que você imaginou um dia. Mais tarde você vai tentar recordar a posição exata dos braços que te envolveram, mas você não vai lembrar dessa vez.
Nem da próxima.

Porque amar é sair do próprio corpo para tentar o do outro.

Quando você sentir isso, parabéns, você deu seu primeiro beijo de verdade.
Você terá a sensação de que não haverá nada igual.

Porque quando achar a pessoa certa, seu primeiro beijo vai ser TUDO.


Vanêssa Aulette

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