sábado, 16 de julho de 2011

Simplesmente esquecemos

Deixe o peso rolar dos seus ombros. Você não sabe que a pior parte já passou? Nós esquecemos. Sim, nós simplesmente esquecemos. A conversa pendente não precisou ser terminada para ser entendida. Os olhos falaram por nós dois.

Pra onde foram as cobranças e a mágoa? E a culpa, então, em quem jogamos? Já nem lembro da culpa. Dos espinhos. Eles simplesmente saíram com a mesma rapidez com que entraram. Sem piedade. Sem olhar pra trás para não dar espaço para a dúvida.
Nós esquecemos de encurtar o abraço, de negar sorrisos, de manter metros de distância, da indiferença. Dos verbos definitivos e quase seguros de sí decorados no espelho. Nós esquecemos de fingir.
Quando esquecemos de demonstrar a raiva é porque nós nunca a sentimos, realmente.
Em vez disso, nós demos lugar às provocações, às ironias, ao afago na franja, ao rubor da face, à proximidade desnecessária (mais necessária do que você imagina), ao abraço e aperto de mão infindáveis. Nós demos lugar à nostalgia. À mesma lua cheia de um fim de tarde de quinta-feira.

É como quando comemos um bolo. Começamos pelo miolo, pelo homogêo. Por fim, saboreamos a cobertura com suas caldas e granulados. O mais prazeroso fica por último. Você me deixou por último. Eu sei.

Nós falhamos no plano. O plano falho mais recompensador de todos. Porque se toda recompensa fosse essa, desejaria passar a eternidade falhando. E você não poderia me culpar por isso porque também falharia. Você me entenderia. Sempre.

Todo o tempo nunca seria longo o suficiente ao seu lado. Já sinto falta do seu cheiro, meu amigo.

Mas não diga nada, não agora. Deixe o tempo falar por nós dois.

Porque os espinhos vão embora, mas são essas pequenas maravilhas que permanecem.


Vanêssa Aulette

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